O Próximo Movimento Importa Mais Que o Seu Último Erro: Ajustes Fisiológicos e Princípios de Aprendizado no Treinamento Funcional
- Leandro Motta
- 30 de mai.
- 4 min de leitura
Atualizado: 23 de jun.

No mundo do treinamento funcional, cada movimento, cada repetição, e cada erro são uma oportunidade de evolução. Uma das grandes chaves para o progresso não é evitar os erros, mas aprender com eles e seguir em frente, ajustando-se a cada tentativa. A ideia de que "o seu próximo movimento importa mais que o seu último erro" vai muito além de um simples lema motivacional. Ela reflete os processos fisiológicos e cognitivos que permitem que o corpo e a mente se adaptem e evoluam ao longo do tempo.
Neste texto, vamos explorar como os ajustes fisiológicos ocorrem a cada repetição e como os princípios de aprendizado – assimilação, acomodação e ajustamento – se aplicam diretamente ao treino funcional. Além disso, vamos entender como teorias de grandes psicólogos como Piaget, Walon e Vygotsky se conectam com os processos de adaptação do corpo e da mente, além da perspectiva do treinador Frans Bosch, um dos grandes estudiosos do movimento funcional.
1. Ajustes Fisiológicos: O Corpo em Perpétuo Ajustamento
Quando você realiza um movimento, seu corpo está constantemente ajustando-se fisiologicamente. Cada erro não é apenas uma falha, mas um estímulo para o cérebro realizar ajustes na execução do movimento. Esses ajustes estão profundamente ligados aos princípios de assimilação e acomodação, conceitos da teoria de Jean Piaget.
Assimilação: Quando tentamos realizar um movimento, nosso cérebro tenta encaixar o novo estímulo dentro das estruturas já existentes de conhecimento motor. Ou seja, se você já tem experiência com agachamentos, a primeira tentativa de corrigir um erro pode ser um simples ajuste na profundidade ou no ângulo.
Acomodação: Se o erro persiste, o cérebro precisa reorganizar a maneira como percebe o movimento e cria novas conexões para corrigi-lo. Esse processo de adaptação é essencial para o avanço no treino, pois permite ao corpo realizar ajustes biomecânicos em tempo real.
Esse processo de feedback e adaptação ocorre em níveis micro. Dados da neurociência mostram que a repetição de um movimento, mesmo errando, resulta na formação de novos caminhos neuronais, um fenômeno conhecido como neuroplasticidade. Ou seja, o cérebro não é fixo – ele é moldado a cada movimento repetido.
2. A Teoria de Aprendizado e Desenvolvimento
O psicólogo Lev Vygotsky trouxe à tona o conceito da zona de desenvolvimento proximal (ZDP), que descreve o espaço entre o que uma pessoa já é capaz de fazer sozinha e o que ela pode fazer com ajuda. Essa teoria é extremamente aplicável ao treinamento funcional: quando um exercício é desafiador, mas dentro da capacidade de ajuste do indivíduo, é nesse momento que ocorrem as melhores adaptações.
Já Henri Wallon destacou que o aprendizado não é apenas cognitivo, mas também emocional. A forma como lidamos com os erros e o feedback que recebemos, seja de um treinador ou de nós mesmos, tem um impacto direto no nosso desenvolvimento motor. A emoção de frustração ou satisfação pode influenciar positivamente os ajustes motores e a assimilação de novos padrões de movimento.
Piaget, por sua vez, enfatizou que o aprendizado envolve duas fases principais: a assimilação (onde o novo conhecimento é incorporado ao que já se sabe) e a acomodação (onde é necessário modificar o entendimento anterior para se ajustar a novas informações). Esse ciclo contínuo de ajustamento e adaptação é central para o nosso crescimento motor.
3. A Teoria de Frans Bosch: Eficiência Biomecânica
Frans Bosch, conhecido por seus estudos sobre treinamento funcional, complementa essas teorias com um conceito fundamental: o treinamento deve ser adaptado à biomecânica do corpo, ou seja, o movimento deve ser eficiente, sem desperdício de energia. Ele argumenta que os ajustes fisiológicos que acontecem a cada repetição são essenciais para alcançar uma biomecânica eficiente, que minimiza lesões e maximiza a performance.
Bosch destaca que o corpo precisa de feedback constante para ajustar a execução dos movimentos, especialmente quando desafiado por exercícios que exigem coordenação e força simultaneamente. A adaptação, segundo ele, deve ser vista como um processo contínuo e individualizado, onde a precisão do movimento vai se aprimorando a cada erro e acerto.
4. Dados Científicos: A Base da Adaptação no Treinamento Funcional
A ciência comprova que o corpo humano é altamente adaptável. Estudos de neurociência apontam que, após 6-8 semanas de treinamento constante, as conexões neuronais se reorganizam, aumentando a eficiência na execução de movimentos. O conceito de sobrecarga progressiva também é respaldado por pesquisas em fisiologia, indicando que para o corpo se adaptar e evoluir, é necessário aumentar gradualmente a carga de trabalho, respeitando os limites individuais.
Estudos de biomecânica reforçam a importância de ajustes contínuos no movimento. A eficiência dos padrões de movimento, como o agachamento ou o levantamento de peso, depende da capacidade do corpo de aprender e ajustar sua técnica a cada repetição. A sobrecarga não é apenas um aumento de peso, mas também de complexidade e variedade de movimento.
O Que Importa É O Próximo Passo
A cada repetição no treino, o corpo e a mente passam por um processo de ajuste e adaptação, conforme os princípios fisiológicos de aprendizado. O erro é uma parte natural desse processo, mas o verdadeiro progresso vem quando ajustamos o movimento, aprendemos com cada falha e seguimos em frente, cada vez mais eficientes. Como Vygotsky diria, estamos sempre na nossa zona de desenvolvimento proximal, prontos para fazer ajustes e evoluir.
Portanto, não se prenda ao erro. O próximo movimento, com seus ajustes e progressões, é sempre mais importante. Bora continuar ajustando e evoluindo!
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